tecnologia e educação

Educação sem distância

Foto: Pixabay

Enquanto não falarem de amor e empatia, a despeito da mediação tecnológica, não terão entendido nada - nem presencial, nem virtualmente.

Toda vez que comento com alguém fora do meu círculo que, a despeito da formação de Comunicação Social, pós-graduação em Gestão de Negócios e trajetória profissional na área de Relações Públicas, busquei nas Tecnologias Educacionais em Rede o meu motivo não só para ação em inovação, dentro ou fora da sala de aula, mas para acreditar na possibilidade de um mundo melhor, escuto, invariavelmente: "Então, tu acreditas mesmo na Educação a Distância?".

"Depende", eu respondo. E ficam me olhando com cara de quem não entendeu nada já que, possivelmente, esperavam um sim de pronto e objetivo. Fato é que eu acredito no aluno como sujeito de sua própria aprendizagem da mesma forma que acredito no meu filho como senhor do seu destino, desde que orientado com amor.

O que eu quero dizer com isso é que a educação, da forma como conhecemos ou, melhor, o que esperamos dela, é - ou pelo menos deveria ser - substancialmente, alicerçada em aquisição de consciência crítica, criativa, participativa, questionadora. Para isso, procuramos, sempre, uma formação sólida que assegure: 1. Dominar conteúdos; 2. Compreender os princípios básicos que fundamentam o ensino numa visão globalizada da cultura; 3. Apresentar referências teóricas para análise e interpretação da realidade e; 4. Ação educativa capaz de vincular teoria e prática, voltada para a percepção das relações entre os contextos sócio-econômico-político e cultural.

Ocorre que me pergunto:

1. Quem ou qual Instituição pode afirmar que "domina" conteúdo? Assim, integral e totalmente, me refiro?

2. Como conseguimos uma visão de fato globalizada? Eu não sei vocês, mas eu não acredito que uma matriz curricular - pelo menos tão somente - faça isso pelo(a) aluno(a).

3. Basta apresentar referências? E cobrá-las, talvez?

4. Se vincula, de verdade verdadeira, teoria e prática, como?

Nessa altura vocês se perguntam o quê as minhas questões têm haver com a minha crença ou não na Educação a Distância. A verdade é que tenho escutado de algumas pessoas que estão preocupadas pelo fato de a Educação a Distância e todos os demais recursos que possam favorecer os processos de ensino e aprendizagem sejam cada vez mais incorporados aos sistemas educacionais ditos tradicionais - e, talvez, ideais, para alguns, justamente por causa daqueles quatro pontos.

Sinto que a preocupação não está centrada onde deveria estar. O ponto não é a forma. Estão certas as pessoas que apontam que a Educação a Distância foi implantada no Brasil a distorcendo, com poucas exceções. Mas estão erradas, ao meu ver, as pessoas que, por isso, desacreditam dela.

Precisamos parar de vê-la como vídeos isolados, conexões sem sentimentos e solidão discente. Nossos filhos já nasceram conectados ao mundo virtual. Os jovens têm o mundo digital muito mais integrado à rotina produtiva e, nós podemos até fazer cara feia para alguns adventos, mas quando apostamos, sem preconceitos, nos vimos imersos a uma já natural cultura de comer, beber, comprar online e, também, forte ou paulatinamente, aprender e ensinar.

Instituições e escolas estão e serão cada vez mais desafiadas pelo uso de novos recursos. Quando aprendemos e assimilamos a funcionalidade de um, outros incontáveis aparecem e o movimento é exatamente esse, caracterizado pela constante sensação de que não temos e talvez nem nunca tenhamos a plataforma, o recurso, o objeto de ensino e aprendizagem ideal.

Quem é ou está professor recebe a missão de buscar inovação ou auxílio de novas ferramentas para tornar as aulas mais instigantes, diferenciadas e participativas. O aluno, por sua vez, sente-se mais à vontade e motivado a estudar, dizem alguns professores e outros, por outro lado refutam a ideia justamente por até acreditar que essa coisa toda tem feito dos jovens egoístas.

As opções são muitas e tem muito professor e instituições perdidos. Toda vez que eu penso nisso e penso que precisamos, vamos lá, atender àqueles requisitos de domínio de conteúdo, visão globalizada, ter referências fidedignas e condições de relacionar e aplicar, de verdade, teoria à prática, olho para meu filho. Será mesmo que estamos tomando a decisão certa ao discutir se é possível aprender com a "barreira" de uma tela, sem o "olho no olho", como alguns dizem?

Só consigo chegar próxima de qualquer resposta ou caminho para àqueles quesitos quando, a despeito da forma - ou modalidade como queiram chamar - enxergo ou busco respeito à individualidade, atenção, estímulo à interação e motivação.

E eu não estou preocupada em fomentar isso tão somente presencialmente. Quando recebi a chance, a oportunidade e a honra de alguém me chamar de professora, eu me comprometi a fazer isso na sala, curricular ou extracurricularmente, pelo computador e até por sinal de fumaça, se for preciso.

Por isso eu não me preocupo em dizer se sou favorável à Educação a Distância ou se prefiro a presencial. O que acredito - e agradeço - é que a tecnologia tem revolucionado as relações, serviços e setores. Não é diferente com a saúde. Por que seria com a Educação?

Acho fantástico, por exemplo, que exista a Telemedicina, que aproxima médicos especialistas a pacientes de lugares distantes onde não há atendimento. Soube que em alguns centros de excelência hospitalar, como o Albert Einstein, já é possível levar a expertise do médico a locais em que a falta de especialistas poderia trazer prejuízos aos pacientes. Dizer não a isso é negar, por exemplo, que um hospital, no interior do Piauí, que atende pelo SUS e está conectado ao Albert Einstein, a uma distância física de 2.500 quilômetros, possa desfrutar dessa oportunidade de ajuda, de olhar ao próximo, de empatia.

Eu gostaria que ao invés de centrarmos a nossa discussão na eficiência e eficácia da educação mediada por tecnologia, a entendêssemos como uma realidade necessária e investíssemos toda nossa força, estudo, amor e energia em fazê-la dar certo. Que percebamos que na Educação a Distância o sucesso do aluno depende em grande parte de motivação e de suas condições de estudo. Que o desenvolvimento de pesquisas sobre metodologias de ensino para educação a distância perpassa pela maior autonomia do aluno, condição sine qua non para o sucesso de qualquer experiência que pretenda superar-se enquanto modelo instrucional.

Que, assim, lutemos por estrutura. Que entendamos que, sim, os países desenvolvidos possuem altos índices de conexão, superiores a 80% segundo levantamento de 2016 da Internacional Telecommunications Union. E, como em diversos outros índices, os países em desenvolvimento são os mais atrasados nesse sentido, inclusive locais populosos como a Índia, que tem menos de 30% de sua população de 1,3 bilhão sem acesso à internet.

Que, por isso, celebremos e não critiquemos, quando sabemos que de olho na possibilidade de expandir o número de usuários, o Google vem implementando diversas medidas para levar internet e telefones celulares para países em desenvolvimento. Nós precisamos dessa ajuda! Nós precisamos de colaboração em rede para que possamos levar acesso ao conhecimento além fronteiras!

Lembram que no ano passado saiu na mídia que balões iriam levar internet a locais remotos? Uau! Preciso que me digam que leram isso com lágrimas nos olhos para sei lá, para eu ainda acreditar que as pessoas são boas! Lembro de ter visto algo sobre uma estação de trem indiana que recebia wi-fi, por esforço da já citada gigante Google, e que moradores de regiões remotas poderiam ganhar acesso de internet por um meio alternativo. Dominar conteúdo, visão globalizada, vincular teoria à prática, lembram, tá resolvido? Por certo, não. O caminho é longo, mas não acho apenas romantismo meu crer que eliminar a crença da barreira entre o on e off line possa ser um passo. Precisamos começar. Precisamos acreditar!

Quando concebemos o aluno como um ser ativo, que formula ideias, desenvolve conceitos e resolve problemas de vida práticos através de sua atividade mental, construindo, assim, seu próprio conhecimento, sua relação pedagógica muda. Não é mais uma relação unilateral, onde transmitimos verbalmente conteúdos já prontos a um aluno passivo que o memorize. A comunicação é soberana. E incrível. Percebam, sintam, celebrem! Se assim não fosse não veríamos pessoas incríveis tentando se comunicar de formas impressionantes. Quem não vê, mas sente; quem não fala, mas se expressa. Quem está longe, mas perto!

Para quem tem condições, estamos falando de oportunidade, está certo e óbvio. Afinal, como é sabido, em paralelo a uma verdadeira mudança de paradigmas, onde as pessoas comuns começam a produzir seus próprios conteúdos objetivando melhoria de performance e ensinamento a pessoas terceiras, ou até mesmo como oportunidade de negócio, a educação a distância cresce de forma cada vez mais acelerada, vemos isso todos os dias, cada vez com mais recursos e funcionalidades específicas e relevantes para deixar o processo de aprendizagem cada vez mais intuitivo, completo e eficiente.

Mas quando vemos esse movimento não pelo ângulo de demanda e oferta, entendemos que não é modalidade. É amor. Me digam, por favor, que ao me ler, também sentem isso. Não se trata de nós, da Liana, de você que está lendo esse artigo. Se trata de todos. Democratizar o acesso à educação sempre foi um dos maiores desafios do Brasil. Com a evolução da tecnologia, esse processo se tornou um pouco menos complexo graças à quantidade de conhecimento que pode ser acessado pela internet e à popularização da Educação a Distância (EAD). A nossa evolução é perfeita? Temos estrutura necessária em todos os cantos? Não, de forma alguma, infelizmente.

Mas, sim, o Ensino e agora a Educação (reflitam sobre a diferença) a Distância se tornou uma alternativa para a formação daqueles que não desejam ou simplesmente não podem encarar a rotina de uma formação tradicional - seja devido às suas realidades econômicas ou geográficas, seja pela indisponibilidade de tempo. Os benefícios propiciados pela Educação a Distância são diversos, vão desde a diminuição de custos e limitações geográficas até a flexibilidade no aprendizado para quem aprende, para quem precisa, para quem sonha com oportunidades melhores.

Existe uma diferença gigante entre focar no problema e não na solução.

Todas essas coisa, que quer leiam como vantagem competitiva, questão de mercado, o que for, meus amigos, têm em comum o impacto que exercem sobre o processo de democratização do ensino. E por isso, me chamem do que quiserem, eu reforço, eu não estou aqui para defender simplesmente um método e dizer que a tecnologia nos salvou. Mas estou aqui para agradecer por ela publicamente. Para acreditar no que ela pode nos ajudar a fazer. Eu estou aqui lutando por democratização e universalização do conhecimento. Com ou sem distância, com tudo que estiver ao meu alcance. E você?


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